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Setor de serviços tem alta em julho, mas fôlego deve ser curto

12 de setembro de 2024
Fonte: Jornal Valor Econômico – SP

Crescimento de 1,2% surpreende, mas inflação e fim da expansão da renda sugerem desaceleração

Por Marsílea Gombata e Alessandra Saraiva — De São Paulo e do Rio

O setor de serviços cresceu acima das expectativas em julho por fatores pontuais, mas economistas esperam arrefecimento no curto prazo por causa da desaceleração do crescimento da massa de renda e riscos de pressões inflacionárias.

O volume de serviços prestados no país cresceu 1,2% em julho, ante junho, segundo a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) divulgada nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número ficou acima da mediana das estimativas de consultorias e instituições financeiras reunidas pelo Valor Data, de estabilidade.

Na comparação com julho de 2023, o volume de serviços cresceu 4,3% ante expectativa mediana de 2,3%. Em 12 meses até julho, a alta foi de 0,9%. Já no acumulado de janeiro até julho a alta é de 1,8%.

Com o desempenho de julho, o patamar do setor de serviços está 15,4% acima do nível de fevereiro de 2020 (pré-pandemia).

A receita nominal de serviços, por sua vez, subiu 2,1% de junho para julho. Frente a julho de 2023, a alta foi de 10,8%.

Em julho, três das cinco atividades acompanhadas pela PMS cresceram ante junho: serviços profissionais, administrativos e complementares (4,2%), informação e comunicação (2,2%), e outros serviços (0,2%). Em contrapartida, houve queda em transportes (-1,5%) e nos serviços às famílias (-0,2%).

Segundo Rodrigo Lobo, pesquisador do IBGE, o setor de serviços mostrou um movimento de “disseminação de altas”.

“É importante notar a ligeira disseminação das altas, registradas em três dos cinco setores avaliados na pesquisa, mas com destaque para as atividades de profissionais, administrativos e complementares e de informação e comunicação, que emplacaram, em ambos os casos, o segundo resultado positivo em sequência”, disse.

Ele lembrou que julho é um mês de recesso escolar e de maior consumo em cinemas, por exemplo. Além disso, neste ano o mês de julho foi favorecido por um “efeito-calendário”, por ter tido dois dias úteis a mais do que julho de 2023.

Thiago Xavier, economista da Tendências Consultoria, lembrou que serviços de informação e comunicação, e profissionais, administrativos e complementares vêm se sobressaindo acima da média nos últimos meses.

“Nos últimos três meses, serviços avançaram 1,3%, enquanto serviços de informação cresceram 2,8%, e profissionais, 1,4%. Todos os outros grandes grupos cresceram abaixo de 1,3%”, afirmou.

Por trás dessa alta, disse, há um fator estrutural, de mudança de hábito de consumo e trabalho, com mais atividades on-line.

O IBGE afirmou que, em julho, uma grande empresa do setor de agenciamento de espaço de publicidade ajudou a impulsionar o desempenho positivo da economia de serviços. Essa agência, segundo Lobo, fez uma retificação de sua série histórica e informou um valor de receita muito acima do observado em desempenhos anteriores.

“De certo modo, essa ‘novidade’ está em linha com o fato de que o setor de serviços está performando bem no Brasil em 2024 muito mais por causa dos serviços voltados para empresas do que dos serviços prestados às famílias”, escreveu a clientes Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, ao observar que o setor vai bem no ano mais devido a serviços voltados para as empresas do que pelos prestados às famílias.

Na avaliação de Rodolfo Margato, economista da XP, o setor de serviços cresceu acima das expectativas em julho puxado por fatores pontuais, mas a expectativa é de desaceleração.

“Os números de julho não alteram nossa visão de que a atividade doméstica continuará em território positivo no curto prazo, embora com crescimento mais moderado em comparação ao primeiro semestre do ano”, afirmou, em relatório a clientes. “Essa dinâmica reflete o menor impulso fiscal e o avanço mais suave da renda real disponível às famílias, além do aperto das condições financeiras.”

Há uma grande demanda de bens e de serviços, e isso pode trazer pressão”

— Stéfano Pacini

Os desempenhos mais fracos na indústria extrativa e na produção agrícola ajudaram a derrubar o volume de serviços de transportes em julho. O segmento de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio recuou 1,5%, principal impacto negativo no setor. O setor aéreo, com alta das passagens, também pesou negativamente.

O resultado de julho imprimiu um viés de alta para o setor no terceiro trimestre, argumentou Daniel Arruda, economista da LCA Consultores, e levou a consultoria a revisar a projeção de alta do volume de serviços medidos pela PMS de 2,2% para 2,6% neste ano.

Essa expectativa, contudo, embute também preocupações. Segundo o economista, apesar da leitura do PMI (Índice de Gerentes de Compras) ter ficado em 54,2 em agosto, os indicadores de confiança estão estagnados.

“Há depreciação da taxa de câmbio, e viés de crescimento de juros, o que pode estar compensando a demanda forte e fazendo os empresários não responderem de forma tão positiva em termos confiança”, afirmou.

Para Stéfano Pacini, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), a alta em julho acende um alerta sobre a inflação. “Há uma grande demanda de bens e de serviços, e isso pode trazer alguma pressão sobre custos, aumento de preços.”

“Se, por um lado, há aumento da renda e menor desemprego, por outro há uma pressão inflacionária que acende um alerta. Parte dessa pressão vem de serviços.”

Pacini ressaltou preocupação das autoridades monetárias em relação a essas pressões, expressa na interrupção do ciclo de queda das taxas de juros e sinais de que ela pode voltar a subir.

“Tenta-se evitar que a inflação seja um problema lá na frente. Se isso não ocorrer, pode ser que o crescimento de serviços arrefeça no curto prazo”, disse.

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