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Aumento da produtividade será chave para PIB per capita

11 de junho de 2024
Fonte: Jornal Valor Econômico – SP

Por Lucianne Carneiro — Do Rio

Cálculo aponta parcela de contribuição de cinco diferentes fatores para expansão

Do crescimento anual de 1,84% do Produto Interno Bruto (PIB) per capita brasileiro entre 1970 e 2023, a chamada razão de independência contribuiu com 31%. O conceito mede a parcela da população em idade ativa em relação ao total e é uma referência para o bônus demográfico.

Enquanto isso, 64% vieram da produtividade do trabalho - indicador que compara o valor adicionado com o número de horas trabalhadas - e 28% da taxa de participação, que é a relação entre as pessoas que estão ocupadas ou em busca de trabalho e o total da população em idade ativa.

Entre 2010 e 2023, as contribuições foram de 85%, -18% e 87%, respectivamente, diante do perfil etário da população, da queda da produtividade do trabalho no período e do aumento da participação feminina no mercado. A conta é dos economistas José Ronaldo de Castro de Souza Júnior e Cristiano da Costa Silva, que tratam do tema em artigo de abertura do livro “Desafio da Produtividade: como tirar o Brasil da armadilha da renda média” (editora Lux), que será lançado nesta semana. A publicação traz as informações até 2022, mas os dados foram atualizados pelos autores até 2023 para o Valor.

O cálculo inclui também a parcela de influência dos outros dois fatores que compõem a variação do PIB per capita, que são a carga horária do pessoal ocupado e a taxa de ocupação - parcela das pessoas ocupadas em relação ao grupo em idade de trabalhar. Os cinco indicadores podem contribuir para cima (número positivo) ou para baixo (número negativo). Juntos, somam 100%.

“Quando se analisa desde 1970, o avanço do PIB per capita é explicado predominantemente pelo crescimento da produtividade do trabalho. Isso reforça a ideia de que a dinâmica produtiva é um determinante crucial para a melhoria do padrão de vida no país. Mas há outros fatores que ajudaram e vêm perdendo força. Vamos depender cada vez mais da produtividade do trabalho”, afirma Souza Júnior, professor do Ibmec, economista-chefe da Leme Consultores e ex-diretor de Macroeconomia do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ele também é o organizador do livro, ao lado do economista do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Fabio Giambiagi.

O levantamento apresenta de forma detalhada as contribuições para o crescimento do PIB per capita nas últimas décadas, uma referência para o bem-estar da população, e levanta o debate do desafio da economia brasileira daqui para frente. Se até agora uma população jovem, que impulsiona a força de trabalho, e a maior presença da mulher no mercado de trabalho têm ajudado a compensar a lenta evolução da produtividade, esses fatores perdem tração daqui para a frente, apontam especialistas. E o crescimento do PIB per capita vai depender cada vez mais da produtividade.

“O desafio é enorme. O crescimento via contratação de pessoas que estavam fora do mercado de trabalhando está acabando. O bônus demográfico também chega ao fim. A gente só vai conseguir crescer o PIB per capita se tiver aumento de produtividade do trabalho”, diz o economista.

Para ter uma ideia, a produtividade do trabalho no Brasil, em relação à dos Estados Unidos, chegou a atingir mais de 40% no fim dos anos 1970, mas caiu para cerca de 25% em 2021, como cita o coordenador do Observatório da Produtividade Regis Bonelli, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), Fernando Veloso, no livro “Produtividade e o futuro da economia brasileira”, da Fundação Dom Cabral (FDC), a partir de dados do “think thank” Conference Board.

Ao longo do período mais recente, Veloso destaca a influência do aumento da presença das mulheres no mercado de trabalho para essa contribuição da taxa de participação na variação do PIB per capita. Classificado também como uma referência para o engajamento no mercado de trabalho, o ponto foi inclusive a maior influência para o aumento do PIB per capita nesse período mais recente, entre 2010 e 2023, pouco à frente do bônus demográfico. Diante do avanço observado, no entanto, a margem para aumentar daqui para frente é menor, pondera Veloso.

Ao mesmo tempo, o Brasil aproveitava a vantagem do bônus demográfico, com crescimento mais rápido das pessoas em idade de trabalhar que o da população como um todo. A acelerada transição demográfica no país aponta que esse processo se aproxima do fim.

Os outros fatores que entram na conta variam menos. Com a Constituição de 1988 e o aumento da informalidade, a carga horária, que é o total de horas trabalhadas no país, vem caindo. Já a taxa de ocupação, que é o contraponto ao desemprego, é uma variável mais cíclica, que oscila a depender de períodos de recessão e de boom.

Vamos depender cada vez mais da produtividade do trabalho”

— José Ronaldo de Souza Júnior

“A produtividade sempre foi importante, mas havia outros fatores demográficos que contribuíam também. A contribuição do bônus demográfico praticamente se esgotou e a da taxa de participação também tem menos margem para aumentar. Agora, a responsabilidade da produtividade é ainda maior porque os outros fatores que compensaram seu baixo crescimento nas últimas décadas praticamente desaparecem”, afirma Veloso.

Ao avaliar os dados, o professor associado da Fundação Dom Cabral e ex-diretor de Política Econômica e Dívida do Banco Mundial, Carlos Primo Braga, destaca a relevância da produtividade do trabalho para o crescimento econômico sustentado do longo prazo. “Sem isso, pode ter voo de galinha, expansão fiscal, mas não se sustenta”, diz ele, que reforça a preocupação com o fim do bônus demográfico, que estima para algum momento na próxima década.

O ano de 2023 trouxe boas notícias, com aumento da produtividade, mas ainda não há clareza se esse será um movimento sustentado, apontam economistas. Um sinal positivo é a força recente do setor formal, que tende a mostrar maior produtividade. Ao mesmo tempo, no entanto, o Brasil ainda tem uma informalidade elevada e o aquecimento do mercado de trabalho e a incorporação de mais trabalhadores ao pessoal ocupado também inclui aqueles com tendência de menor produtividade.

“Infelizmente os dados de 2023 ainda são muito iniciais. É um ponto na curva, que é bem-vindo, mas se a gente olhar o que vai mover a produtividade, como a qualidade de educação, não tem bala de prata, isso é um processo. Além disso, nossa taxa de investimento é medíocre e há questões como melhoria de ambiente de negócios e a política de taxa de juros, que vai refletir também o cenário fiscal”, afirma Braga.

Como reforça Veloso, a agenda para um crescimento sustentado da produtividade é conhecida, mas ainda assim avança a passos lentos e é mais do que necessária. Aumento da qualidade da educação, uma regulação adequada da reforma tributária, melhoria do sistema de crédito e da infraestrutura aparecem com frequência, lembra, mas pouco se fala sobre outro aspecto: a abertura da economia.

“A última reforma de abertura comercial foi no fim dos anos 80, início dos anos 90. De lá para cá, não houve nenhum avanço nesse sentido, na verdade ocorreu o contrário. Só que a inserção na economia globalizada é fundamental para absorção de tecnologia, particularmente agora com a evolução da inteligência artificial”, alerta o pesquisador do FGV Ibre.

Há uma expectativa, segundo Braga, de “mudança significativa de estruturas produtivas com apoio da inteligência artificial”, mas a capacidade de o Brasil aproveitar este momento também depende da melhoria da qualidade da educação e dos investimentos realizados na área, não apenas da quantidade.

“Estamos no início desse processo. A inteligência artificial pode trazer novas práticas a pequenas e médias empresas, que podem ter impacto a médio prazo”, nota.

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