Comércio decepciona em abril e reforça desaceleração do PIB
13 de junho de 2025Queda de 0,4% no varejo restrito e de 1,7% no ampliado sinaliza enfraquecimento principalmente em setores ligados ao crédito
Por Anaïs Fernandes e Lucianne Carneiro — De São Paulo e do Rio
O desempenho do varejo em abril, divulgado nesta quinta-feira, 12, pelo IBGE, reforçou a percepção entre economistas de que o PIB deve passar por desaceleração gradual depois do primeiro trimestre.
Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, o volume de venda do varejo restrito caiu 0,4% em abril, ante março, após três meses seguidos de alta, resultado que foi menos fraco que a queda de 0,7% indicada pelo Valor Data. O varejo ampliado - que inclui veículos, material de construção e atacarejo e é mais importante para o cálculo do PIB - recuou 1,9%, após alta de 1,7% em março e pior do que a expectativa de queda de 1,3% do Valor Data.
Na comparação com abril de 2024, o varejo restrito avançou 4,8%, e o ampliado, 0,8%.
O desempenho do varejo restrito em abril foi dividido entre suas oito atividades: quatro apresentaram alta, e as outras quatro, queda. Com peso de mais de 50% no varejo restrito, o segmento de supermercados recuou 0,8%, acompanhado por taxas negativas em combustíveis e lubrificantes (-1,7%); equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-1,3%); e móveis e eletrodomésticos (-0,3%).
Por outro lado, houve crescimento em livros, jornais, revistas e papelaria (1,6%); outros artigos de uso pessoal e doméstico (1%); tecidos, vestuário e calçados (0,6%); artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (0,2%).
No três segmentos exclusivos do varejo ampliado, todos registraram queda no volume de vendas na passagem de março para abril: veículos e motos, partes e peças (-7,1%); material de construção (-2,7%); e atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo (-2,4%).
Cenário ainda é de desaceleração gradual do consumo das famílias” — Rodolgo Margato.
“Em linhas gerais, as vendas de abril sinalizam enfraquecimento das atividades sensíveis ao crédito, embora os resultados devam ser analisados com cautela, dada a base de comparação elevada. Em nossa avaliação, o cenário ainda é de desaceleração gradual do consumo das famílias”, diz Rodolfo Margato, economista da XP.
Ele estima que o grupo de atividades do varejo mais sensíveis ao crédito recuou 1,3% em abril, ante março, deixando uma “herança estatística” de -1,1% para o segundo trimestre. Já o grupo de atividades sensíveis à renda caiu 0,6%, segundo a XP. “O avanço significativo da massa de renda real disponível deve sustentar o consumo das famílias no curto prazo. O mercado de trabalho segue robusto, com crescimento consistente do emprego formal e a taxa de desemprego nos menores patamares da série de dados iniciada em 2012. Além disso, medidas recentes do governo devem ajudar a impulsionar a demanda doméstica”, afirma.
No geral, o resultado de abril deixa “herança estatística” para o segundo trimestre de +0,4% no varejo restrito e de -0,9% no ampliado, segundo a Tullet Prebon.
Para o Bradesco, as vendas do varejo em abril vieram abaixo das expectativas e, em conjunto com os dados da indústria divulgados na semana passada, sugerem início de trimestre mais fraco do que o esperado. “No entanto, é importante ressaltar que parte relevante do resultado negativo foi influenciada principalmente pelo segmento de veículos, que vem apresentando crescimento nos dados de emplacamento da Fenabrave”, diz a equipe liderada por Fernando Honorato, ponderando que, por ora, vai manter sua projeção de crescimento do PIB em 0,5% no segundo trimestre. No primeiro trimestre o PIB avançou 1,4%.
Segundo o Bradesco, houve um descolamento do indicador de venda de veículos na PMC em relação aos dados de emplacamentos da Fenabrave, que sugeriam expansão em abril. “Os emplacamentos de veículos em maio e na parcial de junho continuam registrando crescimento, indicando que a queda nas vendas de veículos não deve se repetir no próximo mês”, diz a equipe em relatório.
Para o Itaú Unibanco, os números “introduzem um viés levemente negativo para o PIB do segundo trimestre”, diz a equipe liderada por Mario Mesquita.
Apesar do resultado mais fraco do que o esperado, Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, diz ser difícil extrapolar, no momento, a leitura para os demais meses. “Com base nos dados disponíveis, continuamos acreditando na desaceleração gradual da economia brasileira. A nossa estimativa em tempo real sugere uma queda de 0,1% do PIB no segundo trimestre; entretanto, mantemos, por ora, a nossa expectativa de expansão de 0,4%”, afirma.
O monitoramento em tempo real do banco ABC Brasil indica alta de 0,5% do PIB no segundo trimestre, o que, para o economista-chefe Daniel Xavier, ainda é “justo” com uma projeção de 2,5% para o ano. Segundo ele, a economia contará, por um lado, com o mercado de trabalho ainda apertado e estímulos adicionais - como o novo consignado privado e um Minha Casa, Minha Vida ampliado -, mas, por outro, com condições monetárias ainda restritivas.
Embora a perda de ímpeto do varejo vista hoje possa fortalecer a narrativa de algum alívio à política monetária, a leitura é de relativa estabilidade no segundo trimestre, o que reforça o cenário de uma desaceleração gradual da atividade no ano, diz a Kínitro Capital.
“O comércio segue muito próximo de suas máximas históricas e teremos mais dois meses de dados difíceis de se analisar dada a base de comparação do ano passado ter eventos relevantes como as enchentes do Rio Grande do Sul”, observa o economista João Savignon.
O C6 Bank espera que o varejo ampliado feche 2025 com crescimento pouco abaixo de 2%, após crescer 3,7% em 2024. “Os números do varejo indicam que a economia brasileira está em processo de desaceleração gradual”, diz a economista Claudia Moreno. Ela projeta alta de 2% para o PIB em 2025.
Para a Genial Investimentos, o resultado ainda aponta a resiliência do setor em um ambiente macroeconômico mais adverso, como juros e inflação elevados e aumento da incerteza doméstica e internacional, “refletido no fato de que o setor ainda se encontra muito próximo do patamar mais elevado da série histórica”, diz em relatório.
“Entendemos que a leitura de abril corrobora o nosso cenário de que a economia brasileira deve passar por um processo bastante gradual de arrefecimento ao longo dos próximos trimestres, indo ao encontro da nossa projeção de crescimento de 2,4% do PIB no ano”, afirma.
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