Como é o novo exame para HPV no SUS que detecta o vírus antes do surgimento de lesões e de câncer
03 de setembro de 2025Procedimento gratuito será para mulheres de 25 a 64 anos, com implementação gradual no Brasil; Pelotas será a primeira cidade do RS.
FERNANDA POLO
Um novo exame gratuito para detecção de papilomavírus humano (HPV) começou a ser implementado pelo Ministério da Saúde no Sistema Único de Saúde (SUS) em agosto.
Com tecnologia 100% nacional, o teste de biologia molecular DNA-HPV reconhece 14 tipos de HPV, identificando a presença do vírus no organismo antes da ocorrência de lesões ou de câncer em estágios iniciais.
O HPV é a principal causa do câncer de colo do útero, terceiro tipo mais incidente em mulheres, de acordo com o Ministério da Saúde. Seis em cada 10 brasileiras não sabem da relação entre HPV e esse tipo de tumor, segundo pesquisa divulgada em agosto pelo Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) e pelo Instituto Locomotiva.
Implementação gradual
O exame será voltado a mulheres entre 25 e 64 anos. A implementação, gradual, começará em 12 Estados, com um município em cada, sendo ampliada conforme a finalização da troca do exame Papanicolau pelo novo método (leia mais abaixo).
A implementação do novo teste, que aumenta as chances de cura, integra o Plano Nacional para o Enfrentamento do Câncer do Colo do Útero e o programa Agora Tem Especialistas. A meta é estar presente em todo o país até dezembro de 2026. No Rio Grande do Sul, a medida será implementada para 87 mil mulheres, começando por Pelotas, de acordo com a Secretaria Estadual da Saúde (SES). O teste estará acessível por meio de consulta ginecológica nas unidades básicas de saúde.
Segundo a prefeitura de Pelotas, a cidade foi escolhida por sua ampla rede básica de saúde e pelo histórico de pesquisas científicas em saúde, permitindo testar 100% das mulheres na faixa etária recomendada. As coletas devem ser iniciadas neste mês.
Como funciona o exame
O exame é produzido pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná, ligado à Fiocruz. A forma de coleta permanece a mesma do método preventivo tradicional, o Papanicolau (também conhecido como citopatológico ou pré-câncer), que será substituído.
A diferença é que, antes, colocava-se a amostra de células do colo do útero em uma lâmina, e agora, em um frasco com líquido, como explica a ginecologista Fernanda Uratani, coordenadora do Núcleo de Patologia do Trato Genital Inferior da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (Sogirgs). O frasco é, então, enviado para a análise do laboratório, que realizará um teste PCR de HPV para identificar se há algum tipo de HPV no DNA.
Se o resultado for positivo, solicita-se a análise de células do material para identificar se há alguma alteração. A depender do tipo de HPV, não será necessário esperar o resultado para realizar uma colposcopia — exame com lente de aumento que mostra se há alguma alteração (como lesões) no colo do útero.
A presença de HPV de alto risco significa que há maior chance de desenvolver uma lesão pré-maligna e, posteriormente, maligna, no colo do útero. O Papanicolau detecta quando já existe alguma lesão; já com o novo exame, será possível identificar as pacientes de maior risco e acompanhá-las antes mesmo de desenvolverem uma lesão ou tratá-las precocemente.
Vamos conseguir agir mais cedo e não vamos deixar nem terem câncer de colo de útero. FERNANDA URATANI - Coordenadora do Núcleo de Patologia do Trato Genital Inferior da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do RS.
Menos exames e intervenções
Por ser mais eficaz e conferir maior sensibilidade diagnóstica, o novo teste reduz a necessidade de exames e intervenções e permite ampliar o intervalo entre as coletas (de três para cinco anos) quando o resultado for negativo, aumentando a eficiência e reduzindo custos, conforme o Ministério da Saúde.
Além disso, tornará mais acessível a testagem específica para HPV em populações com dificuldade de acesso aos serviços de saúde por meio da autocoleta.
A ginecologista Fernanda Uratani explica que pacientes que apresentam resultado positivo nem sempre desenvolvem a doença — o vírus pode ser eliminado com o tempo, por isso, as mulheres não devem se assustar. Contudo, há mais chances, motivo pelo qual elas devem passar por avaliações mais frequentes.
Câncer 100% prevenível
O câncer de colo de útero é 100% prevenível por meio de vacinação e de rastreamento e tratamento de lesões antes de virarem câncer, lembra Fernanda. O novo teste chega para aprimorar ainda mais o rastreamento.
O exame de DNA-HPV já estava disponível na rede particular, com cobertura para alguns convênios. Agora, estará disponível para milhares de brasileiras gratuitamente pelo SUS.
— Nenhuma mulher deveria morrer por câncer de colo de útero — destaca a médica.
Na Austrália e em alguns países da Europa, já há previsão de eliminar a incidência de câncer de colo de útero devido à ampla vacinação e à testagem. A inclusão desse novo exame no SUS pode mudar o cenário desse tipo de câncer no Brasil, aponta Fernanda:
— Esse é o nosso objetivo.
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