Farmácias e drogarias, muito além dos pontos de venda
30 de junho de 2023Com investimentos em tecnologia, grandes e pequenas redes ampliam oferta de serviços e defendem a regulamentação da telemedicina
Por Rosangela Capozoli
Antes vistas apenas como ponto de venda de medicamentos e cosméticos, farmácias e drogarias buscam novas funções e cada vez mais sofisticação para mudar a imagem. Algumas assumem ares de consultório de saúde e investem em tecnologia. Basta um clique no aplicativo e o cliente consegue agendar dia e horário na sua drogaria ou farmácia preferida, seja para uma vacina ou uma consulta on-line.
Os testes rápidos, que antes se restringiam apenas à detecção da covid-19 e glicemia, foram ampliados para 47 tipos diferentes de exames de análises clínicas, disponíveis a partir de 1º de agosto.
Antes da decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), grandes redes já realizavam parte desses exames por meio de decisão judicial e do amparo da Lei nº 13.021/2014 – legislação que definiu as farmácias como estabelecimentos de saúde –, ressalta a Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma).
O fato é que grandes e pequenas redes querem um novo posicionamento, como um posto de atendimento à saúde, associando a telemedicina à garantia da correta prescrição dos medicamentos e orientação aos pacientes.
“Lutamos para regulamentar também a telemedicina”, acrescenta Modesto Araújo Neto, presidente da Drogaria Araújo e também do Conselho Diretivo da Abrafarma.
A expansão da lista de exames deve alavancar a receita dos estabelecimentos, que no primeiro trimestre deste ano já avançou 13,93% sobre o mesmo intervalo de 2022, superando R$ 21 bilhões. Dados da entidade mostram que as grandes redes vêm ganhando fôlego especialmente por meio de delivery e e-commerce, operações que apresentaram o maior aumento percentual, 35,89%.
Só as vendas on-line atingiram R$ 1,11 bilhão. “É o terceiro trimestre seguido com indicador acima de R$ 1 bilhão na comercialização digital”, observa Sergio Mena Barreto, CEO da Abrafarma, entidade que reúne 27 redes associadas.
Os chamados “não medicamentos” (OTC) puxaram o resultado, com avanço de 16,65%, ao somar R$ 6,79 bilhões. Em seguida, os medicamentos com prescrição tiveram evolução de 12,68% e receita de R$ 14,2 bilhões. Os genéricos movimentaram R$ 2,47 bilhões, acréscimo de 18,23%.
“O consumidor está sabendo se adaptar à pressão da inflação e dos juros altos sobre a cadeia de custos do varejo, o que ajuda a explicar a ascensão dos genéricos”, diz Barreto. Ao mesmo tempo, ele avalia, “esse consumidor não abre mão da conveniência ao buscar outros produtos, além dos remédios, em um único canal”.
O ano segue com sinais bastante positivos e, segundo Barreto, poderá fechar com alta de 17% na receita. Se a previsão se concretizar, o setor terá um faturamento de R$ 85 bilhões – cerca de 35% provenientes dos medicamentos. O motor gerador do aumento da receita, diz o CEO da Abrafarma, é impulsionado pelo tripé aumento de eficiência, abertura de novas lojas e oferta de mix de produtos.
O crescimento se dá mesmo em meio à falta de medicamentos que persiste. “Durante a pandemia a entrega correspondia a 54% do total de pedidos feitos à indústria. Hoje subiu para 70%”, afirma Barreto. Na sua análise, “a logística da cadeia ainda é muito ruim. Os elos precisam conversar. É necessário criar mecanismos para entender a dinâmica dessa ruptura”.
“Estamos crescendo em volta das caixinhas”, emenda Flavio Correia, diretor de relações institucionais e com investidores da rede RaiaDrogasil (RD), cuja receita líquida alcançou R$ 7,9 bilhões entre janeiro e março, alta de 21% na comparação anual.
O resultado é explicado, principalmente, pelo crescimento de 19,2% da receita bruta da operação de varejo, além do aumento de vendas de 20,1% em medicamentos de marca, 22,4% em genéricos, 8,6% em OTC e 25,9% em perfumaria. A empresa projeta 260 novas aberturas de unidades no triênio 2023-2025, totalizando 780 pontos de venda.
Sexta maior rede de farmácias do país e líder em Minas Gerais, de acordo com a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), a Drogaria Araujo prevê investir R$ 100 milhões na abertura de 50 novas unidades no Estado. Se o projeto for concluído, a expansão irá superar o número de lojas inauguradas em 2022, quando somaram 30. Atualmente são 300 unidades em 50 cidades mineiras.
O foco principal são municípios com mais de 40 mil habitantes e onde ainda não atua. O presidente da rede, Modesto Araújo Neto, estima alta de 20% no faturamento neste ano, de aproximadamente R$ 4 bilhões. No primeiro trimestre avançou 17,4%, em comparação com o mesmo período de 2022, e as vendas on-line aumentaram 50%.
“Queremos manter o ritmo de crescimento no digital, que já responde por 11,5% do faturamento total. Por meio dos nossos canais digitais – site, aplicativo, Drogatel, marketplaces e WhatsApp –, atingimos, em média, 350 mil clientes por mês”, afirma. Correia, da RaiaDrogasil: 780 pontos de venda até 2025.
Em abril a rede lançou o Araujo Saúde em Dia, serviço que permite ao cliente monitorar sua saúde por meio do atendimento especializado e personalizado do farmacêutico. “Esses check-ups têm como objetivo auxiliar o paciente no controle de peso, pressão arterial, diabetes, colesterol, entre outras enfermidades”, relata.
O grupo Panvel, por sua vez, estabeleceu um plano para dobrar de tamanho até 2025 e alcançar uma receita de R$ 6 bilhões, como afirma Roberto Coimbra, diretor-executivo de operações do grupo. Nos primeiros três meses deste ano, a Panvel registrou alta de 14,1% na receita bruta, de R$ 1,1 bilhão, sobre 2022, mas teve queda de 11,5% no lucro líquido. No trimestre, a rede abriu 14 novas lojas e a base de clientes cresceu 28,8% em um ano, superando a marca de 16 milhões de consumidores cadastrados. No fim de março eram 565 unidades.
Afetada pelo cenário de juros altos, a rede Pague Menos reduziu de 60 para 20 as inaugurações de novas unidades. “Ainda acreditamos no relevante potencial para nosso crescimento orgânico, mas foi preciso segurar a abertura de novas lojas pela necessidade de alocação de capital adicional em estoques conectada com o processo de integração e capturas de sinergia da Extrafarma”, informa em comunicado ao mercado. A abertura de 120 novas lojas em 2024, porém, foi mantida.
De janeiro a março deste ano, a receita líquida da Pague Menos avançou 9,8%, para R$ 2,17 bilhões. A rede conta com 1,6 mil lojas, segundo Marcos Colares, VP commercial & supply da Pague Menos & Extrafarma.
A empresa tem consultórios farmacêuticos. “Oferecemos algo próximo a 60 serviços, para encurtar a jornada do cliente no atendimento à atenção primária, como teleinterconsultas, testes laboratoriais remotos, aplicação de vacinas e acompanhamento de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão”, informa.
A digitalização e o emprego de ferramentas tecnológicas também beneficiam as redes de menor porte. A Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar) disponibiliza 15 ferramentas que dão suporte às rotinas e à gestão das empresas em três verticais: administração, compras e vendas. “O associativismo praticado pela Febrafar possibilita o acesso a ferramentas inovadoras para o crescimento dos negócios”, ressalta Edison Tamascia, presidente da entidade.
A Febrafar reúne 66 redes, que somam 14.344 lojas em 26 Estados e no Distrito Federal, cujo faturamento nos 12 últimos meses até fevereiro, dado mais recente, superou R$ 25 bilhões, segundo a IQVIA, multinacional americana que atua no setor de tecnologia da informação em saúde e pesquisa clínica. O montante representa 13,7% do varejo farmacêutico nacional. Apenas uma das ferramentas, o Programa de Estratégias Competitivas, concentra uma base de 48 milhões de consumidores. “Nos últimos 90 dias, esse programa de fidelidade proporcionou um faturamento de R$ 1,9 bilhão e registrou transações envolvendo 7,9 milhões de CPFs”, relata Tamascia.
Dentro de um mercado que ganha terreno em todas as modalidades, as pequenas e médias redes de farmácias estão se movimentando em várias frentes. A União de Farmácias Brasileiras (Unifabra), que congrega esse perfil de varejo, acaba de criar uma estrutura de gestão profissionalizada com a meta de ser a principal voz das pequenas e médias redes.
Até 2025, a meta é dobrar de tamanho e somar R$ 4 bilhões de faturamento. “A associação congrega 16 redes que administram 373 lojas e, juntas, acumulam receita de R$ 1,8 bilhão”, informa Edu Rocha, CEO da entidade. A Unifabra, diz ele, já detém 13% de participação em municípios de até 50 mil habitantes e 9% em cidades médias, com população máxima de 300 mil habitantes. “Temos musculatura para avançar nessas localidades, mas também enxergamos potencial para ganhar espaço nas metrópoles
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