Fiocruz e Butantan estão entre os 15 principais produtores mundiais de vacinas, diz OMS
25 de novembro de 2022Novo relatório destaca presença das instituições brasileiras entre as que mais entregam imunizantes para países-membros da organização, de um total de 94 fábricas.
Por Bernardo Yoneshigue
A Fiocruz, por meio do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), no Rio de Janeiro, e o Instituto Butantan, em São Paulo, estão entre os 15 principais produtores mundiais de vacinas para países-membros da Organização Mundial da Saúde (OMS). É o que mostra a última edição do Relatório Global do Mercado de Vacinas, realizado pela autoridade sanitária internacional, baseado nos números de 2021. As instituições brasileiras se destacam em meio a um total de 94 fábricas.
A presença de institutos brasileiros no relatório foi celebrada pela Fiocruz e pelo Butantan, que representam não apenas a capacidade do país em produzir e distribuir vacinas, como também o potencial da própria América Latina. O Butantan, por exemplo, forneceu um total de 100 milhões de doses de aplicações destinadas ao combate de problemas de saúde como gripe, hepatite A, hepatite B, DTaP e raiva.
“É um resultado importante que coloca o Butantan ainda mais em evidência, principalmente como o principal produtor da América Latina”, diz o diretor de Parcerias Estratégicas e Novos Negócios do Butantan, Tiago Rocca, em comunicado.
Ele destaca o crescente papel do instituto na imunização contra a gripe no continente. Em abril deste ano, o Butantan exportou 700 mil unidades da vacina para o Uruguai; 225 mil doses para a Nicarágua e, em agosto, um milhão de doses para o Equador por meio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), braço regional da OMS. Segundo o instituo, toda a receita recebida é convertida para pesquisa e desenvolvimento de novos imunizantes, como os para dengue e chikungunya.
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, ressalta o histórico de políticas públicas de vacinação no Brasil para o cenário de hoje. É o caso, por exemplo, da criação do Programa Nacional de Imunizantes (PNI), um dos maiores do mundo, e do Programa de Auto-Suficiência Nacional em Imunobiológicos (Pasni), que investiu na ampliação de centros como a Fiocruz e o Butantan no final do século passado.
“Ficamos felizes de figurar entre os principais produtores de vacinas e de ter contribuído para melhorar a saúde das pessoas contra diferentes doenças e para salvar vidas. Esse dado é fruto de décadas de trabalho da instituição e da tradição do país em políticas públicas de vacinação, que envolve a produção dos insumos em saúde, como se verifica também com a presença do Instituto Butantan entre os maiores produtores", afirma Nísia, em comunicado.
A Fiocruz entrega em média 120 milhões de doses de vacinas para o PNI ao ano, entre elas a da febre amarela, da qual Bio-manguinhos lidera a produção mundial. Também é a responsável pelas vacinas da tríplice viral, que protege contra sarampo, rubéola e caxumba, e da poliomielite. A relevância global fez com que a instituição fosse selecionada, no ano passado, como um dos centros para desenvolvimento e produção de vacinas com tecnologia de RNA mensageiro na América Latina pela organização.
Fábricas pelo mundo
A nova lista da OMS com as instituições brasileiras entre as com mais destaque exclui os imunizantes da Covid-19 devido ao caráter excepcional da distribuição de vacinas imposto pela pandemia.
A Moderna, por exemplo, que é uma farmacêutica recente e teve como primeiro produto aprovado a aplicação contra o novo coronavírus, representa 6% das doses entregues em 2021, porém não aparece ao se considerar os demais imunizantes de rotina.
O catálogo com as 94 fábricas é composto majoritariamente por produtores da China e da Índia, que contam com 23 e 7 manufaturas, respectivamente – 31% do total. Em relação ao volume de doses, os 10 produtores que lideram a lista são responsáveis por 71% do total, o que destaca a concentração da indústria mundial. Em primeiro lugar, aparece o Instituto Serum da Índia (SII), que sozinho entrega 20% de todas as unidades de vacinas, mais de um bilhão de doses.
Além de mencionar os números, o documento destaca que, apesar dos esforços globais da OMS para tornar o acesso às vacinas mais igualitário, esse ainda é um grande desafio. "Embora a Covid-19 tenha lembrado ao mundo o poder imensurável das vacinas como bens públicos essenciais, também destacou desigualdades no acesso que infelizmente são a regra e não a exceção globalmente", alerta o diretor-geral da OMS no relatório, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
"Os países de baixa renda lutam para ter acesso a vacinas que estão em demanda em todo o mundo. Por exemplo, a vacina contra o papilomavírus humano (HPV), que protege contra o câncer do colo de útero, foi introduzido em apenas 41% dos países de baixa renda, enquanto salva vidas em 83% de países de alta renda", acrescenta.
Instituições na pandemia
A capacidade das duas instituições em produzir vacinas ficou mais evidente para a população brasileira com o cenário da Covid-19. Ainda em 2020, o Butantan firmou uma parceria com o laboratório chinês SinoVac para a fabricação da CoronaVac no país.
O acordo permitiu que, ao receber o aval da Anvisa, o Brasil já contasse com milhões de doses do imunizante disponíveis em estoque, que foi inclusive o primeiro a ser aplicado aqui.
Ainda hoje, a produção do Butantan é fonte das vacinas destinadas às crianças de 3 a 5 anos. Ao todo, desde janeiro de 2021, o instituto já enviou mais de 112 milhões de doses contra a Covid-19 para o PNI.
Em relação à Fiocruz, um contrato foi assinado com a Universidade de Oxford, no Reino Unido, e a farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca, responsáveis pelo desenvolvimento de uma das vacinas contra o novo coronavírus mais utilizadas no mundo. Graças à parceria, a Fiocruz já entregou mais de 200 milhões de aplicações ao Ministério da Saúde.
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