Abrafarma Logo
Área
Restrita
Abrafarma Logo

Inflação mais alta deprime renda e limita a retomada

16 de agosto de 2021
Fonte: Jornal Valor Econômico – SP

Só a classe A terá sobra de recursos, com alta de 2,8%. Na outra ponta, a classe D/E deve ter um recuo de 18,5%

Por Ana Conceição — De São Paulo

O aumento na inflação está deixando menos renda na mão das famílias e é um fator que pode limitar o consumo neste ano, um fator que se adiciona a outros, como a escassez de insumos na indústria e as perdas na agropecuária, como percalços no caminho de um crescimento mais forte da atividade. Cálculo da Tendências Consultoria indica que a massa de renda disponível - aquela que sobra depois dos gastos com bens e serviços essenciais - deve cair 5,1% em termos reais neste ano, na comparação com 2020.

Só a classe A terá sobra de recursos, com alta de 2,8%. Na outra ponta, a classe D/E deve ter um recuo de 18,5%, enquanto a faixa média, B/C, deve ter quedas de 0,5% e 6,6%, respectivamente. As diferenças se explicam porque na classe A, mais de 60% da renda é formada por outras formas de remuneração que não o salário, como lucros e dividendos, por exemplo. Nas classes B e C a renda do trabalho é o principal item da renda, com peso acima de 85%. A alta da inflação e a queda dos salários têm diminuído o rendimento dessas faixas.

Na classe D/E, muito dependente de programas como o Bolsa Família, BPC e benefícios da Previdência Social, a ausência de aumento real do salário mínimo - definido no ano passado, antes da aceleração da inflação - e o encarecimento de bens essenciais corroem a renda que sobra para a compra de outros itens. Essa faixa também foi prejudicada pela redução do auxílio emergencial, que em 2020 foi responsável por alta de 20% na renda disponível. “O aumento da inflação entra como um fator limitante do consumo das famílias”, afirma Alessandra Ribeiro, economista da Tendências.

“Supondo que elas mantenham o consumo da mesma cesta de bens essenciais, há uma queda importante na massa de renda disponível”. Conta de luz e alimentos estão entre os bens essenciais que mais subiram, 20% e 16%, respectivamente, em 12 meses, segundo o IBGE. Para as famílias mais pobres, os bens essenciais representam 80% dos gastos, para a classe A, 48%. Na classe média, essa parcela fica em torno de 60%.

A inflação também tem tido impacto sobre a renda do trabalho, algo que afeta em especial a classe C. A queda prevista de 3,1% na massa de renda total (trabalho, previdência, benefícios sociais) é puxada pelo fator trabalho. “Não mexemos muito nas projeções de ocupação, mas a renda tem vindo mais fraca. Tem uma mudança importante aí”, diz Ribeiro. A Tendências reduziu a estimativa de crescimento da massa de rendimento real do trabalho, de alta de 2,0% para 1,5%. A revisão acompanha a queda na projeção para o rendimento médio, de queda de 2% para 2,5% ante 2020.

“Os salários nominais não estão acompanhando o aumento de inflação”, diz Ribeiro. O aumento da massa de rendimento ocorre mais pelo crescimento de pessoas ocupadas que pela renda, observa Gabriel Couto, economista do Santander. O banco estima alta de 2,5% na massa. “Há um contingente grande de pessoas entrando no mercado de trabalho e a tendência é que essas pessoas venham com salários mais baixos”, afirma. A crise no mercado de trabalho tem dificultado aumentos acima da inflação.

Segundo o boletim Salariômetro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), nos últimos 12 meses, apenas 37% dos acordos e convenções coletivas conseguiram aumentos acima da inflação. “Crises combinadas a altas taxas de inflação resultam perdas reais nas negociações”, afirma Helio Zylberstajn, coordenador do Salariômetro e professor sênior da FEA/USP. “Nesse cenário, os sindicatos de trabalhadores são obrigados a mudar o foco, reduzindo a ênfase nos ganhos econômicos para priorizar a preservação do emprego.” Nas negociações do primeiro semestre, os trabalhadores também viram reduzidos benefícios como vale alimentação, refeição e plano de saúde.

No segundo semestre do ano, Zylberstajn não vê espaço para reajustes reais. “A desocupação deve continuar muito alta e isso reduz o poder de barganha dos trabalhadores. Não é fácil repor uma alta da ordem de 9%”, diz, referindo-se ao acumulado do IPCA até julho. Souto, do Santander, diz que a inflação, que tem surpreendido repetidamente para cima, assim como o aperto monetário, são ventos contrários no mercado de trabalho. “Mas na nossa visão, o que deve prevalecer no segundo semestre é o processo de reabertura da economia”, diz.

O grande contingente de pessoas que deve voltar ao mercado de trabalho, contudo, deve manter altas as taxas de desemprego, 14,1% na média de 2021, e 13,5% em 2022. A Tendências elevou a projeção de 2021 para a taxa média de desocupação, de 14% para 14,2%, e reduziu a projeção de 2022 de 13,7% para 13,5%.

Você é jornalista? Participe da nossa Sala de Imprensa.

Cadastre-se e receba em primeira mão: informações e conteúdos exclusivos, pesquisas sobre a saúde no Brasil, a atuação das farmácias e as principais novidades do setor, além de dados e imagens para auxiliar na produção de notícias.

Vamos manter os seus dados só enquanto assim o pretender. Ficarão sempre em segurança e a qualquer momento, pode deixar de receber as nossas mensagens ou editar os seus dados.