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IPCA ultrapassa teto da meta, mas analistas veem cenário positivo

11 de julho de 2025
Fonte: Jornal Valor Econômico – SP

Junho tenderia a marcar o pico da inflação no ano, mas tarifaço de Donald Trump pode reverter a situação, alertam economistas.

Por Marcelo Osakabe e Lucianne Carneiro — De São Paulo e do Rio

Influenciada por pressões pontuais, a inflação ao consumidor desacelerou menos que o esperado em junho e ultrapassou, pela primeira vez, a meta de inflação contínua perseguida pelo Banco Central. Apesar disso, analistas apontam que as aberturas qualitativas continuaram a melhorar e que junho pode ter marcado o pico da inflação no ano. Eles alertam, por outro lado, que o tarifaço anunciado pelo presidente americano, Donald Trump, pode reverter o impacto baixista que o câmbio vem causando na dinâmica de preços.

Após marcar 0,26% em maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), subiu 0,24% em junho, segundo o IBGE. É a maior leitura para junho desde 2022 (0,67%) e ficou acima da mediana das projeções ouvidas pelo Valor Data, de alta de 0,19%.

No acumulado em 12 meses o IPCA chegou a 5,35%, o sexto mês consecutivo acima da banda perseguida pelo Banco Central, que tem centro em 3% e teto em 4,50%. Pelo novo modelo, significa que a meta de inflação foi descumprida e que a autoridade monetária precisou publicar, em carta aberta ao ministro da Fazenda, as razões do descumprimento e também as medidas para recolocar a inflação na meta (ver BC reforça postura conservadora em carta sobre inflação fora da meta).

Cinco das nove classes de despesas tiveram desaceleração da alta de preços: alimentação e bebidas interromperam nove meses de alta e tiveram deflação de 0,18% em junho; o grupo habitação caiu de 1,19% para 0,99%; saúde e cuidados pessoais passou de 0,54% para 0,07%; despesas pessoais recuaram de 0,35% para 0,23% e educação, de 0,05% para estabilidade. Foram registradas taxas maiores em artigos de residência (de -0,27% para 0,08%); vestuário (de 0,41% para 0,75%); transportes (de -0,37% para 0,27%); e comunicação (de 0,07% para 0,11%).

Energia elétrica respondeu por metade da alta da inflação em junho. Por causa da bandeira tarifária vermelha 1, ela anotou 2,96% no mês passado, impactando o IPCA em 0,12 ponto percentual.

Economistas notam que, em relação às projeções, as surpresas altistas vieram concentradas. Para Adriano Valladão, do Santander, as altas acima do esperado vieram de alguns tubérculos, um corte menor que o antecipado da gasolina e a alta de quase 14% do transporte por aplicativo, que fugiu do padrão sazonal para junho.

“Esses são itens mais voláteis. As leituras de serviços subjacentes e a média dos cinco núcleos acompanhados pelo Banco Central vieram mais em linha com a nossa projeção, e o núcleo de industriais veio marginalmente melhor que o antecipado”, diz.

Na média móvel de três meses dessazonalizada e anualizada, a média dos 5 núcleos, inclusive, caiu para 4,4%, dentro da banda perseguida pela autoridade monetária. “É o mesmo nível que estava girando em torno de outubro, antes dos eventos que afetaram economia no final do ano”, lembra.

Na mesma linha argumenta a estrategista de inflação da Warren, Andréa Angelo, ressaltando que este pode ser o pico da inflação em doze meses do ano. Em seus cálculos, a média móvel de três meses dessazonalizada e anualizada dos serviços “muito inerciais” caiu de quase 7% em maio para 6,28% em junho e os intensivos em trabalho, de 6,21% para 3,03%. Os serviços subjacentes apresentaram desaceleraram de 6,79% em maio para 6,11% em junho, enquanto industriais subjacentes recuaram de 4,67% para 3,49% em junho. “Mesmo com as surpresas de junho, não mudamos nossa projeção de IPCA a 5% esse ano”, diz. “Obviamente, esse cenário depende de o câmbio não mexer muito. Seria importante que ele continuasse a cair para novas revisões baixistas”.

Economista-chefe da Parcitas, Vitor Martello ressalta que o bom comportamento das métricas subjacentes recebe, até o momento, grande ajuda do câmbio e também da deflação que a China tem exportado via preços industriais mais baratos, como é possível perceber nos índices ao produtor. Com isso, a inflação de bens no Brasil segue abaixo da média, ao passo que dos serviços segue alta por causa do mercado de trabalho aquecido, mas parou de piorar.

“Este cenário reforça a percepção de que o juro real no Brasil está muito alto, de que o Banco Central fez o trabalho”, diz. “O BC posicionou os juros num nível bastante confortável para encarar essas turbulências vindas de fora. Então, a questão do Trump não tem incomodado muito a gente. O juro real está muito alto, a inflação corrente está ainda incompatível com o centro da meta, mas eu diria que tem sim uma melhora olhando de seis meses para cá. E eu acho que a melhora vai continuar sendo observada olhando 12 meses para frente”.

Para a economista-chefe da Mirae, Marianna de Oliveira Costa, existia uma discussão sobre se o Copom poderia antecipar o início dos cortes da Selic por causa da valorização do real Com a elevação da incerteza por causa do tarifaço do Trump contra o Brasil, essa conversa subiu no telhado. “Se até antes do anúncio, havia essa pressão baixista do câmbio sobre inflação, hoje não está mais certo”, comenta.

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