Isenções reduzem impacto no PIB brasileiro e mantêm mercado para indústria, dizem especialistas
31 de julho de 2025Mas ‘ainda não é fim da história’, afirmam. Documento diz que essas isenções podem ser revistas a qualquer tempo.
Por Cássia Almeida — Rio
Quem saiu ganhando na opinião do economista Armando Castelar, da Fundação Getulio Vargas (FGV), foi a Embraer, que seria a mais prejudicada com o tarifaço de Trump:
— As isenções foram especialmente nos bens manufaturados que são mais difíceis de desviar para outros destinos.
Além dos Estados Unidos, o Brasil exporta bens industriais para América Latina, que têm maior valor agregado.
Tarifaço nos EUA já reduz preços de alimentos no Brasil: Veja o que pode ficar mais barato. O impacto no Produto Interno Bruto (PIB) caiu pela metade, segundo o economista Samuel Pessôa, também da FGV. Ele calculou que a taxação de 50% faria a economia crescer menos 0,3 ponto percentual, em 12 meses. Em vez de crescer cerca de 2,23% previsto para este ano pelo Boletim Focus, do Banco Central, a expansão seria mais perto de 2%. Com as isenções previstas, o impacto cai pela metade, 0,15%, com efeito desinflacionário.
— E o impacto será levemente desinflacionário. Trump percebeu que o tarifaço machuca o consumidor americano, que são produtos difíceis de substituir, tirando o café.
José Augusto de Castro, presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), atribui a pressão de empresários, principalmente americanos, mas também brasileiros para a lista extensa de isenções à tarifa de 50%.
— Deduzo que os que seriam mais afetados teriam dificuldade de arranjar substituto. Especulamos que o café possa ser incluído por ser de difícil substituição. A Colômbia, por exemplo, não produção suficiente para atender.
Mas ainda não é o “fim da história”, a advogada Ana Caetano, sócia da área de comercio exterior, da Veirano Advogados, diz que a ordem executiva diz que as tarifas podem mudar a qualquer tempo, o que mantém a incerteza sobre o comércio entre os dois países.
— As tarifas podem mudar para cima e para baixo, a imprevisibilidade continua. O acordo da União Europeia com os Estados Unidos, apesar de ruim, garante uma previsibilidade.
Carlos Primo Braga, professor da Fundação Dom Cabral e Ex-diretor de Política Econômica e Dívida do Banco Mundial, diz que vários dos produtos que estão na lista de exceções são insumos importantes para as empresas americanas, por isso não fazia sentido manter uma tarifa proibitiva.
— Mas na hipótese de o ex-presidente Jair Bolsonaro ser condenado no julgamento em setembro, qual será o próximo passo dos EUA?
Mas ele lembra que a base legal para aplicação dessas tarifas por Trump vai continuar sendo contestada nos tribunais americanos. E a questão chegará na Suprema Corte no primeiro semestre do ano que vem.
Pêssoa diz que a base jurídica para questionar o uso da lei de emergência econômica internacional (IEEPA) para justificar o aumento de tarifas é forte e tem condições de avançar na Corte Federal de Apelações vai julgar nesta quinta-feira o recurso do governo Trump contra a decisão do Tribunal de Comércio Internacional de considerar ilegais as tarifas aplicadas pelo presidente americano:
Recuo que virou chacota
Otaviano Canuto, ex-vice presidente do Banco Mundial e atualmente no Policy Center for the New South, diz que os recuos de Trump já são conhecidos, já classificados com a sigla Taco (Trump Always Chickens Out) e não foi diferente com o tarifaço do Brasil. A aviação fora da taxação já era esperada, diante da condição de dependência das companhias de aviação regional dos aviões da Embraer:
— Era um tiro no próprio pé. Outros produtos agrícolas, como polpa de laranja, os Estados Unidos não têm produção suficiente. Apenas minimizou o dano sobre a própria produção americana e sobre a cesta de consumo doméstica.
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