Meningite provoca surto na cidade de São Paulo e alta em 4 estados
30 de setembro de 2022Doença avança em meio à baixa cobertura vacinal e deixa especialistas em alerta.
Por Eduardo F. Filho — São Paulo
A cidade de São Paulo registrou nesta semana um surto de meningite meningocócica localizado em dois bairros da Zona Leste. De acordo com a secretaria municipal de Saúde, foram confirmados cinco casos do tipo C da doença em Vila Formosa e Aricanduva, incluindo um fatal, de uma mulher de 42 anos. Um dos pacientes é um bebê de dois meses, e o mais velho, um idoso de 61 anos. Todos os registros ocorreram entre julho e setembro deste ano.
A secretaria considera que há surto de uma doença quando ocorrem três ou mais casos do mesmo tipo em um período de 90 dias na mesma localidade. Devido ao cenário, os moradores dos dois bairros estão sendo convocados a irem aos postos de saúde para se vacinarem contra a meningite. Só neste ano, foram pelo 56 casos da doença no município.
Os registros não são um fenômeno isolado. Segundo levantamento feito pelo GLOBO, ao menos quatro estados apresentaram crescimento nos casos de meningite este ano. Até setembro, houve aumento de registros na Bahia (de 118,5%), Espírito Santo (103,6%) Rio de Janeiro (55,5%) e Minas Gerais (1,31%) em comparação com 2021. E uma das principais causas apontadas por especialistas é a baixa cobertura vacinal, que amplia a ameaça da doença e de outras já controladas, como a pólio.
O estado de São Paulo registrou apenas neste ano 2.841 casos de meningite e 290 óbitos. A secretaria estadual informou por meio de nota, que vacinou, até junho, 71,7% do público infantil alvo da doença, uma cobertura muito aquém da meta de 95% preconizada pelo Ministério da Saúde para tentar barrar o crescimento da meningite meningocócica pelo país.
Alta nos estados
Na Bahia, foram confirmados 177 casos de meningite até setembro deste ano, com 26 óbitos. Em 2021, foram 81 registros. A taxa de vacinação até o momento é a menor desde 2017, com menos da metade do público infantil vacinado.
A secretaria estadual do Espírito Santo afirmou que foram contabilizados 169 casos de meningite neste ano, com 41 óbitos. Em 2021, o estado registrou 83 ocorrências da doença.
O governo do Rio informou que, até agosto, foram registrados 977 casos da doença no estado, com sete óbitos. Já são 18 a mais que o total de 2021, de 959, quando houve oito mortes causadas pela inflamação.
Em Minas Gerais, neste ano foram registrados 465 casos da doença, com 71 mortes. Foram seis casos a mais na comparação com o ano passado inteiro. Só 75% das crianças de até 1 ano foram imunizadas no estado.
Já Pernambuco registrou oito casos de meningite até setembro. Não houve registro de morte. A cobertura vacinal no estado está em 52,1%, a menor em dez anos. A meta preconizada de 95% não é cumprida desde 2015, quando o índice registrado foi de 98,2%.
A secretaria estadual de Saúde de Santa Catarina informou que até julho deste ano registrou 265 casos da doença, que provocou 21 óbitos. Até o momento, o estado imunizou 79% das crianças até 1 ano.
O Rio Grande do Sul não tem um surto de meningite desde 2015, quando registrou 110 casos da doença. Até setembro deste ano, houve 19 casos, o mesmo número de 2021. Goiás, em 2022, contabilizou 108 casos e sua cobertura vacinal é de 75%.
Nas capitais, a baixa vacinação começa a se refletir no número de casos, que já preocupa especialistas. No Rio de Janeiro, por exemplo, a secretaria de Saúde registrou dez ocorrências de meningite desde o início do ano, com três óbitos. O Recife registrou 106 casos de janeiro e setembro deste ano — 33 a mais do que no ano anterior inteiro.
— Essa situação nos coloca em alerta, porque é fundamental evitar a doença e isso ocorre com a imunização. Existe uma queda na vacinação de forma geral, para várias doenças.
As fake news construídas durante a introdução da Covid-19 provavelmente colocaram na cabeça da população um medo, receio e falta de confiança no imunizante. Precisamos superar esse período de desinformação absurda que está causando essas consequências na adesão às campanhas — explica o epidemiologista André Ribas.
A vacina é a principal forma de se prevenir contra a meningite. Ela está disponível de forma gratuita nos postos de saúde. O público infantil continua sendo o público-alvo das campanhas de conscientização da doença.
São indicadas três doses de reforço, sendo uma entre 12 e 15 meses, outra entre 5 e 6 anos, e mais um entre 11 e 12 anos de idade. Para crianças e adolescentes de 10 a 19 anos de idade, caso não tenham recebido a vacina na infância, são recomendadas duas doses com um intervalo de cinco anos.
Segundo o Ministério da Saúde, o país registrou até o momento 5.821 casos de meningite e 702 óbitos, com taxa de cobertura vacinal em torno de 52,08%.
Vários tipos
A meningite é uma inflamação das meninges —as três membranas que envolvem o cérebro e protegem o encéfalo, a medula espinhal e outras partes do sistema nervoso central. A doença pode ser causada por bactérias ou vírus. Mais raramente, é provocada por fungos ou pelo bacilo de Koch, da tuberculose. Pessoas de todas as idades podem desenvolver o quadro, que no entanto costuma afetar mais crianças.
Entre as formas mais comuns, a meningocócica é a mais grave. Desencadeada pela bactéria Neisseria meningitidis, tem evolução rápida e pode ser letal em 24 horas. Quanto mais cedo o tratamento for iniciado, maior será a chance de cura.
A doença pode ser transmitida pelo portador através das vias respiratórias, por gotículas e secreções da nasofaringe. O período de incubação varia de dois a dez dias.
Ribas lembra que a taxa de letalidade é alta, de cerca de 30%. Entre os principais sintomas estão febre, dores, mal-estar, dificuldade para encostar o queixo no peito e eventualmente manchas vermelhas espalhadas pelo corpo. O último sinal, inclusive, é o indicativo de que a bactéria se alastrou pelo organismo o que pode virar uma infecção generalizada.
O médico ressalta que existem meios de conter a meningite uma vez instalada.
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