Mesmo em queda, varejo fecha 2024 forte, mas 2025 preocupa
10 de janeiro de 2025Retração em novembro fica acima do esperado e sinaliza esgotamento no fôlego do setor após crescimento intenso em 2024.
Por Rafael Vazquez e Lucianne Carneiro — De São Paulo e do Rio
As vendas no varejo brasileiro em novembro foram menores do que em outubro, com quedas mais fortes do que o esperado. De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o varejo restrito teve queda mensal de 0,4% apesar do impulso da Black Friday.
Já o varejo ampliado, que inclui as vendas de veículos e motos, partes e peças, material de construção e atacarejo, recuou 1,8% em relação ao mês anterior. Na avaliação de economistas ouvidos pelo Valor, os resultados representam um ajuste devido ao forte desempenho dos meses anteriores, mas, diante das incertezas que pairam sobre a economia em 2025, é possível que seja o primeiro sinal de esfriamento do setor depois do aquecimento observado ao longo de 2024.
Em comparação com novembro de 2023, o varejo restrito anotou crescimento de 4,7% e expandiu 5% no acumulado de janeiro a novembro do ano passado, enquanto o varejo ampliado avançou 2,1% na comparação com o mesmo mês de 2023 e 4,4% nos 11 meses do ano.
“Em relação ao varejo restrito, apesar da queda pontual em novembro, nossa leitura é de certa estabilidade porque está devolvendo o mês anterior e na comparação interanual em 2023 o setor ainda está em um nível muito positivo”, afirma a economista Geórgia Veloso, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
Veloso comenta que novembro foi um mês atípico com muitos feriados, o que pode ter afetado varejo. “Isso vai ficar mais claro quando tivermos os dados do setor de serviços no mesmo mês. E dezembro ainda deve trazer números melhores para o varejo por causa das vendas de fim de ano”, acrescenta.
O fator de preocupação para o setor, de acordo com a economista do FGV Ibre, está na perspectiva carregada de incertezas para 2025. Ela explica que o cenário está nublado com variáveis positivas como o mercado de trabalho aquecido e o aumento da renda das famílias ao mesmo tempo em que o dólar acelerou, com impactos para a inflação, e as taxas de juros estão em movimento de alta. As preocupações fiscais também contribuem negativamente ao gerar um ambiente de pessimismo nos empresários do setor.
“Diferentemente do final de 2023 quando tínhamos uma expectativa bem positiva para 2024, agora o cenário é de incerteza porque já iniciamos o ano com esses fatores contrabalanceando. A balança está pesando para os dois lados. Não temos só fatores positivos e não sabemos como vai ser o decorrer desses fatores negativos, o quanto eles vão pesar no bolso dos consumidores e dos empresários também”, diz Veloso.
Para o economista da XP Rodolfo Margato, os dados da PMC podem ser o primeiro sinal de que o melhor momento do setor já passou e ficou em 2024. Ele argumenta que a queda de 1,8% do varejo ampliado, puxada pela queda de 7,6% nas vendas de veículos, motocicletas, partes e peças e pelo declínio de 11,7% do atacarejo de alimentos, bebidas e fumo, devolveu a alta acumulada nos dois meses anteriores mesmo que no acumulado de 2024 os resultados ainda sejam bastante positivos.
“O primeiro grupo [de veículos, motos e peças] ainda mostra forte crescimento no acumulado do ano (12%), refletindo o aumento das concessões de crédito. Mas os melhores dias podem ter ficado para trás. Os dados da Fenabrave de vendas nacionais de veículos referentes a dezembro sustentam essa visão. Além disso, o recuo mensal nas vendas de material de construção [-1,4%] encerrou uma sequência de três altas consecutivas na margem”, observa Margato.
Pelos cálculos da XP, os segmentos de varejo mais sensíveis ao crédito declinaram 4,7% em novembro, após salto de 5,6% em outubro, levando a um avanço de 1,1% na métrica de trimestre móvel.
No varejo restrito, que exclui os segmentos de veículos e material de construção, a queda de 0,4% ficou mais dentro do que era esperado, mas Margato pondera que os gastos pessoais com bens perderam força no quarto trimestre de 2024, embora continuem em território positivo. O maior problema está para 2025, afirma o economista.
“Acreditamos que as vendas varejistas continuarão a esfriar ao longo de 2025, devido ao aumento da inflação, aperto das condições financeiras e menor impulso fiscal. Projetamos alta de 2% para o PIB em 2025, após expansão de 3,6% em 2024”, defende Margato.
Em relatório enviado a clientes, a equipe econômica da Genial Investimentos concluiu que o recuo do varejo em novembro reforça a percepção de arrefecimento da economia brasileira. “Assim como o observado na leitura do setor industrial, o desempenho do varejo em novembro aponta para um arrefecimento da atividade econômica no último trimestre do ano. Diferentemente do mês anterior, cinco das oito atividades pesquisadas recuaram no mês, com destaque para categorias mais ligadas ao consumo discricionário - móveis e eletrodomésticos, e outros artigos de uso pessoal e doméstico - que se beneficiaram de descontos de grandes varejistas no mês de outubro em um movimento de antecipação da Black Friday”, aponta a análise.
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