Práticas sustentáveis geram valor, atraem talentos e reduzem custos, diz CEO da RD Saúde
04 de novembro de 2025Para Renato Raduan, investir em sustentabilidade tem um retorno direto: funcionários mais felizes oferecem melhor atendimento e menor absenteísmo, e o cliente percebe essa preocupação
Por Eduardo Geraque
Mesmo antes da questão puramente econômica, a RD Saúde, fruto da fusão da Raia com a Drogasil feita em 2011, já cultivava a cultura de “gerar externalidades positivas”, segundo Renato Raduan, CEO do grupo. “Nossa estratégia é clara e está apoiada em três pilares: pessoas mais saudáveis, negócios mais saudáveis e ambiente mais saudável”, diz.
Na última entrevista da série A Era do Clima - Rumo à COP-30 (iniciada em novembro do ano passado), Raduan também explica como a empresa, que hoje detém 16% do mercado farmacêutico nacional, pretende alcançar a meta de reduzir as emissões de suas próprias operações em 42% até 2030.
A seguir, os principais trechos da entrevista, cuja íntegra pode ser vista no vídeo acima.
Como a sustentabilidade é tratada dentro do grupo?
Sustentabilidade aqui tem um contorno bem abrangente. Vai além dos temas climáticos e envolve muitas questões sociais, cuidado com a saúde das pessoas e proteção do meio ambiente. Tive a sorte de entrar numa empresa com 120 anos que já se preocupava em gerar externalidades positivas. Uma empresa de saúde em que os farmacêuticos cuidavam das comunidades num Brasil com poucos médicos. De fato, fazer o bem sempre fez parte da cultura, antes mesmo do termo sustentabilidade ser cunhado. Hoje, de forma mais organizada, essa cultura existe e foi transformada numa estratégia clara, dividida em três pilares: pessoas mais saudáveis, negócios mais saudáveis e ambiente mais saudável.
Então vamos começar pelo último pilar, o do meio ambiente. O que está sendo feito na prática?
Na prática, começamos pela emissão de gases. Não somos uma indústria produtora, somos um distribuidor, mas nossa cadeia logística é onde temos o maior desafio. Queremos reduzir 42% das emissões de escopo 1 e 2 até 2030. Em quatro anos, já reduzimos 39% em três frentes: 100% da nossa energia vem de fontes renováveis de geração distribuída; estamos eletrificando a logística, com 60 caminhões elétricos e uso de biocombustíveis; e otimizamos rotas e treinamentos de motoristas em direção sustentável, o que reduz entre 15% e 20% das emissões. Quanto aos resíduos, grande parte da operação logística é reciclável: caixas de papelão são reutilizadas na embalagem de produtos de marca própria, e as caixas plásticas retornam ao ciclo logístico. O maior desafio ainda são os resíduos de obras das novas farmácias, para os quais buscamos destinação sustentável.
O sr. pode dar um panorama do grupo? Quantas farmácias, quais regiões, metas de expansão?
Hoje temos 3.400 farmácias em todos os Estados, incluindo várias em Belém, e atendemos 50 milhões de clientes. Temos 12 mil farmacêuticos espalhados pelas comunidades. Nosso market share ainda é de 16%, então há muito espaço para crescimento. Estamos mais saturados em São Paulo, mas podemos expandir para outros Estados e municípios.
Sobre essa expansão, quais são os principais gargalos?
São internos e operacionais: todas as novas unidades precisam ter gerentes e supervisores promovidos internamente. Isso limita a velocidade de crescimento, mas garante padrão de cuidado e cultura interna.
Falando agora dos outros pilares, como a sustentabilidade está presente no cuidado com o colaborador e com o cliente?
No colaborador, a empresa é uma plataforma de ascensão social: 100% das pessoas da operação foram desenvolvidas internamente. Temos programas de inclusão de PCDs e o programa Minha Melhor Versão, para saúde física, mental e espiritual, além de cuidados com saúde mental, que é um desafio desta década. Nos negócios mais saudáveis, focamos em diversidade e inclusão: dois terços da equipe são mulheres, e mais da metade da liderança é negra, promovendo equidade.
Os temas ambientais e sociais, hoje, estão incluídos em processos onde as contas fecham?
Temos convicção de que sim, mas nossa filosofia sempre foi fazer o certo e gerar externalidades positivas, mesmo antes da análise econômica. Com o tempo, percebemos que práticas sustentáveis geram valor, atraem talentos, engajam pessoas e reduzem custos de energia e transporte. Além disso, há impacto direto no cliente: funcionários mais felizes oferecem melhor atendimento e menor absenteísmo, e o cliente percebe nossa preocupação explícita com sustentabilidade, como no programa para descarte correto de medicamentos vencidos.
Sobre esses medicamentos vencidos, que são um problema sério de geração de resíduos, como funciona o processo?
Temos uma empresa parceira que faz a logística reversa. A maior parte vai para incineração controlada, evitando contaminação de rios e águas. Outras estações estão próximas dos centros de distribuição.
E a tecnologia, algoritmos, inteligência artificial, como ajudam na sustentabilidade?
Usamos bastante tecnologia para entender o comportamento do consumidor e para a tomada de decisão interna. Ainda há muito a explorar em inteligência artificial a serviço da sustentabilidade, mas tecnologias como biocombustíveis e eletrificação de frota já são aplicadas.
E como é a governança para acompanhar essas iniciativas?
Temos comitê de sustentabilidade com encontros mensais há cinco anos, subcomitês internos com todas as áreas e gestão sistemática da evolução das iniciativas. Não é apenas uma carta de intenção; é gestão prática.
E como o grupo influencia fornecedores e o setor varejista?
Temos premiação anual, e 15% da pontuação de destaque dos fornecedores está ligada a metas climáticas sólidas.
Como cidadão, além do executivo, qual sua expectativa para a COP-30, em Belém?
Sou muito otimista. Espero que a COP-30 eleve o engajamento de empresas, governos e sociedade. O Brasil tem vocação para liderar na agenda climática, com biodiversidade, biocombustíveis, energia renovável e a Amazônia. Haverá desafios, mas acredito no saldo positivo e no avanço da conscientização e ação climática.
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