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Relação de massa salarial e consumo mudou, diz banco

15 de janeiro de 2025
Fonte: Jornal Valor Econômico – SP

Normalização é esperada, mas impulso do crédito e poupança das famílias podem limitar, aponta estudo do Santander.

Por Anaïs Fernandes  — De São Paulo

O crédito e a poupança acumulada pelas famílias desempenharam papel fundamental para ajudar o consumo a se recuperar mais rápido do que a massa salarial e a depender menos dela desde a pandemia. Mais recentemente e à frente, porém, a preferência das pessoas físicas por pagar dívidas e a perspectiva de novo aumento da taxa de poupança colocam limites a esse consumo, ainda que ele deva ser um fator importante para a resiliência da atividade em 2025.

É o que aponta um estudo do Santander, antecipado ao Valor, que investigou as relações entre massa salarial e consumo no Brasil. Desde 2021, após o choque da covid-19, a economia brasileira passou por uma recuperação robusta, impulsionada pelo consumo, observam economistas do Santander. Curiosamente, porém, eles constataram que, no período, a elasticidade entre a massa salarial e o consumo mudou, no sentido de que a massa salarial real passou a precisar aumentar mais para levar ao mesmo crescimento de consumo que gerava anteriormente.

Após a crise sanitária, notam, o consumo se recuperou antes da massa salarial e continuou a mostrar crescimento relativamente constante desde então. A massa salarial, por sua vez, teve uma recuperação mais atrasada, atingiu pico em 2023, começou a retornar, mas interrompeu essa tendência e permanece em um nível mais alto do que o “normal”.

A questão agora é para onde está indo essa renda que não vira consumo?”

— Henrique Danyi

“A questão agora é para onde está indo essa renda que não está virando consumo? Porque o consumo deveria estar mais alto ainda do que ele está, dada a massa salarial acelerada”, diz Henrique Danyi, um dos autores do estudo junto com Gabriel Couto, Ítalo Franca e Felipe Kotinda.

Segundo o Santander, o crédito pode explicar, em grande parte, como o consumo se recuperou antes da massa salarial e continuou a crescer a uma taxa mais constante depois. “Se tem mais concessões, isso apoiou o consumo lá atrás, e poderia não estar apoiando agora. Mas, se as concessões ainda crescem, porque não estão virando ainda mais consumo? O que nós observamos é que o impulso fiscal do crédito livre para pessoa física foi positivo quando o consumo crescia mais rápido do que a massa salarial e virou negativo quando a massa salarial passou a crescer mais que o consumo. Ou seja, as famílias pegaram mais crédito na pandemia para recuperar seu consumo mais rápido, mas, para compensar, agora estão mais pagando esse crédito do que pegando concessões novas”, explica Danyi.

Além disso, os economistas notam que a poupança das famílias aumentou desde a pandemia e houve uma pequena contração mais recentemente, mas ela continuava acima dos níveis pré-covid. Ou seja, a taxa de poupança mais alta pode ser vista como outra “obstrução” à massa salarial virar consumo. “Os salários às vezes vazam para a poupança, e os empréstimos podem, às vezes, impulsionar o consumo acima de um nível que seria suportado apenas pelos salários”, resumem os economistas no relatório.

Diferentemente do que se poderia supor, eles não identificaram influência das transferências governamentais para o descasamento inicial entre massa salarial e consumo. A explicação mais provável, segundo eles, é que, apesar do maior apoio do governo iniciado com a pandemia, os consumidores não conseguiram manter suas cestas de consumo à época, já que serviços não puderam ser fornecidos devido às políticas de isolamento do período.

Uma possibilidade, inclusive, é que parte das transferências tenha ajudado a engordar, inicialmente, a poupança das famílias, ao mesmo tempo em que essa economia pode estar sendo usada, agora, não para consumo, mas para pagar dívida, em uma análise cruzada das hipóteses, observa Danyi.

Olhando à frente, os economistas dizem que suas estimativas apontam normalização da relação entre salário e consumo - ou seja, este último passa, novamente, a depender mais do primeiro. Mas ponderam ser difícil prever com certeza a normalização.

“As hipóteses para justificar o descolamento inicial não justificam a normalização ainda. O impulso de crédito livre da pessoa física ainda está negativo, sem sinais de convergir para positivo tão cedo, ou seja, ainda há grande volume de pagamentos. Ao mesmo tempo, a gente acha que a taxa de poupança volta a subir”, diz Danyi. As taxas de juros mais elevadas são um dos fatores que apontam nessa direção, segundo o Santander.

Quanto mais retornar a proximidade entre massa e consumo, maior tende a ser o impacto da desaceleração do primeiro no segundo, observa Couto. “O consumo ainda deve ser um dos destaques do PIB em 2025. Mas tem um limite, e essa relação [entre massa salarial e consumo] vai ser muito importante daqui para frente, porque o cenário mudou”, diz Franca, citando como exemplo o quadro inflacionário.

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