Setor de cosméticos ignora crise, e vendas de maquiagem saltam 18%
27 de junho de 2022Volta dos encontros sociais e trabalho presencial ajudam a impulsionar o mercado estético.
Por Raphaela Ribas — Rio
A professora de Direito Ana Mendes passou recentemente por uma transição capilar, que mexeu com sua autoestima. Ela hoje ostenta com orgulho cachos bem hidratados, diferentes dos cabelos que usava sempre alisados antes da pandemia. Para mantê-los impecáveis agora, ela não pensa duas vezes antes de investir em produtos. O gasto mensal dela com a beleza dos cabelos chega a cerca de R$ 1.800, entre tratamentos em casa e no salão, ela estima. Mesmo com preços em alta, não cogita cortar do orçamento.
— Abro mão de roupa, de comprar besteira, até de algum lazer, mas não de cuidar do cabelo. É importante eu me sentir bem — diz Ana, uma das fiéis clientes da cabeleireira Renata Varella, dona do Clube das Pretas, na Zona Sul do Rio.
Ana e Renata estão nas pontas do mercado de produtos e serviços de beleza, que cresce este ano a despeito da inflação alta, que reduz o poder de compra das famílias. Muitas encaram os cosméticos como essenciais, que não podem sair da cesta de compras, ainda mais com a volta dos encontros sociais e profissionais.
Essa fidelidade aparece na alta de 6,5% nas vendas do setor de janeiro a março, em comparação com o primeiro trimestre de 2021, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). A categoria de cabelos teve alta de 10% e a de maquiagem, de 18%.
Levantamento da consultoria de varejo Euromonitor International mostra que o faturamento dos salões de beleza cresceu de 5,5% no Brasil em 2021, com a retomada das atividades presenciais.
Renata sobreviveu ao fechamento na pandemia e agora reinventa seu negócio agregando aos tratamentos uma linha própria de produtos para as clientes cuidarem da manutenção dos cabelos em casa. Na semana passada, ela lançou o primeiro produto, um gel especial para cabelos crespos e cacheados.
— Já tenho rótulo para xampu, condicionador e outros, mas o investimento é alto, então vou lançar aos poucos — diz a empresária.
Novos lançamentos
Segundo o presidente da Abihpec, João Carlos Basílio, o interesse pelos cosméticos durante a crise é o que estimula o lançamento de cada vez mais produtos. Há mais de 800 marcas só de xampu no Brasil:
— O setor em geral está retomando, mas lentamente. A inflação impede crescer com mais fôlego. Higiene pessoal tem certa estabilidade porque as pessoas não deixam de fazer. Já (produtos para) olho e batom, que caíram na pandemia, estão voltando bem.
O Grupo Boticário foca este ano em batons, sombras e máscaras de olho na volta das atividades presenciais. Tem um portfólio de novidades na área e aposta no “figital”, a mistura entre os canais tradicionais do varejo e o e-commerce, que já representa 45% de suas vendas.
A L’Oréal Brasil, que teve um trimestre positivo na casa dos dois dígitos, também acompanha a volta da demanda por maquiagem e cuidados com o rosto com o fim das máscaras obrigatórias. Uma das novidades é a nova linha de antirrugas para mulheres na menopausa.
— A beleza vai muito além da aparência, é uma ferramenta poderosa de empoderamento, de autoconhecimento — opina Patrick Sabatier, diretor de Assuntos Corporativos da L’Oréal Brasil, sobre a resiliência do mercado.
Fragrâncias nacionais
Guilherme Machado, gerente de pesquisa da Euromonitor, identificou desaceleração no crescimento do consumo de cosméticos em 2021, o que ele atribui à desigualdade acentuada na pandemia.
Classes altas mantiveram renda e consumo e economizaram na quarentena, enquanto o fim do auxílio emergencial obrigou os mais pobres a cortar gastos. Mas o Brasil segue com o melhor desempenho nessa área entre os países da América Latina.
— O mercado de cosméticos no Brasil é muito resiliente, a mulher não deixa de se cuidar. — diz Danielle de Jesus, vice-presidente da Duty, dona da marca DaBelle, de produtos veganos para o cabelo — Estamos trazendo mais tônicos e novas versões de óleo em creme. Nosso desafio neste ano é distribuição e comunicação.
Outro setor em que o Brasil desponta, segundo Machado, da Euromonitor, é o de fragrâncias. Na Granado, foram 15 novos produtos desde 2020. A Linha Bebê, seu carro-chefe, ganhou refil e novas fragrâncias. As vendas cresceram 33% no primeiro trimestre deste ano, frente ao mesmo período de 2021.
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