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Vitaminas e suplementos em goma: benefício e riscos dos produtos que estão ganhando as prateleiras

09 de junho de 2025
Fonte: Jornal O Globo - RJ

Em posicionamento enviado ao GLOBO, a Anvisa afirma que a aplicação deste tipo de medicamento exige cuidados.

Por Eduardo F Filho  — São Paulo

O produto foi apenas a mais recente adição a uma crescente oferta de suplementos e medicamentos sob a forma de goma (ou gummy), que pode ser atrativa para alguns mas carrega também desvantagens.

Segundo a agência, a decisão de proibir a Metbala foi tomada porque “o produto não tem qualquer tipo de regularização. Além disso, a empresa identificada não tem autorização da Anvisa para fabricar medicamentos”.

A tadalafila, também conhecida por um de seus nomes comerciais, Cialis, é um dos fármacos mais vendidos no Brasil. Em 2023, foi o 9º genérico com mais vendas, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (PróGenéricos). Entretanto, a forma de goma da substância não é respaldada por dados suficientes que comprovem a qualidade, segurança e eficácia dessa apresentação.

Os produtos comercializados no país como gummy (ou goma) que passaram pelo pesquisas e análises necessárias para aprovação são, em sua maioria: vitaminas (C, D, E, complexo B) e minerais (ferro, zinco, selênio, magnésio) adaptados às necessidades individuais dos pacientes; suplementos de diversos tipos, como creatina, melatonina e colágeno, além de gomas de nicotina com o objetivo de cessar o vício no tabagismo.

— Essas apresentações são especialmente úteis para crianças que não conseguem engolir comprimidos, ou até mesmo adultos que também têm essa dificuldade, e idosos que não atingem uma alimentação boa e equilibrada e precisam de suplementação. Elas são mais aceitáveis e facilitam a adesão ao tratamento — diz o médico do esporte e nutrólogo Eduardo Rauen, fundador da Liti e diretor técnico do Instituto Rauen.

Crianças com transtorno do espectro autista (TEA) ou outras condições que dificultam a ingestão de medicamentos tradicionais também podem ser beneficiadas pela forma de goma.

É importante ressaltar que, de forma geral, as gomas devem ser mantidas fora do alcance das crianças para evitar ingestão acidental — são muito atraentes pela semelhança com balas e doces — e um adulto ou responsável deve fornecer os produtos a elas caso necessário.

— Uma dosagem excessiva pode resultar em intoxicação. A ingestão demasiada de vitamina D pode acarretar insuficiência renal e de vitamina C pode desregular o metabolismo, por exemplo — explica Rauen.

Outra desvantagem dos produtos em forma de goma é a distribuição e homogeneização da substância. Por exemplo, o meio ou as pontas podem ter uma maior concentração do que as outras partes. Isso pode ser um problema no caso de a dose indicada ser uma fração da unidade.

Além disso, as gomas geralmente têm açúcar, aditivos e adoçantes em sua formulação, podendo causar desconforto para alguns tipos de pacientes, como diabéticos ou aqueles com síndrome do intestino irritável.

Rauen ainda diz que outro problema está ligado à instabilidade do medicamento, ou seja, muitos deles podem perder a funcionalidade na presença de luz, em contato com a água ou oxigênio.

— A cápsula, em geral, é melhor para reposição de vitaminas e minerais. Formas alternativas de apresentação dessas substâncias, muitas vezes, não possuem a mesma estabilidade , concentração, grau de pureza e durabilidade — afirma o endocrinologista Fulvio Tomaselli, diretor do Departamento de Endocrinologia do Esporte e Exercício da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

A quantidade diária recomendada de vitamina C, para um adulto saudável, é de cerca de 100 miligramas, com a dose máxima de 2 mil miligramas — dependendo da quantidade, apenas um comprimido dissolvido em água ou uma cápsula são suficientes. Há também a possibilidade de se tomar em gomas. Mas é necessário saber a quantidade disponível em cada uma para saber quantas tomar por dia.

— As pessoas acreditam que precisam tomar vitaminas para melhorar a saúde, mas na maioria das vezes, não precisam. Em adultos saudáveis, apenas uma alimentação balanceada, com fibras, vegetais e frutas, é suficiente para ele ter uma concentração de vitaminas e minerais essenciais. Exceções, claro, para crianças que não se alimentam bem ou idosos que sentem falta de apetite — afirma Tomaselli.

Os profissionais afirmam que o ideal é procurar um especialista para verificar a necessidade de fazer suplementação de qualquer tipo de mineral, vitamina ou outras substâncias.

Outra goma que está ganhando espaço como uma possibilidade de diminuir o tabagismo são aquelas com nicotina que auxiliam os pacientes a parar de fumar.

— Ao serem mastigadas, as gomas liberam nicotina que é absorvida pela mucosa oral e ajuda a aliviar sintomas de abstinência como irritabilidade, ansiedade e dificuldade de concentração — explica o pneumologista Carlos Chueiri.

A liberação ocorre gradualmente e evita os picos de nicotina típicos do cigarro, o que reduz o risco de reforçar a dependência. O médico, entretanto, afirma que o uso incorreto delas pode causar efeitos adversos, como irritações na boca e problemas gástricos.

— O uso é individualizado: quem fuma menos de 20 cigarros por dia costuma usar gomas de 2 mg, mas existem também as de 4 mg. A dose diária varia entre oito e 12 gomas — afirma..

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a ingestão das gomas como um dos recursos da terapia de reposição de nicotina, ao lado de adesivos, pastilhas e medicamentos.

Em posicionamento enviado ao GLOBO, a Anvisa esclarece que os medicamentos em forma de gummy estão sujeitos aos mesmos requisitos técnico-sanitários de outras apresentações farmacêuticas, ou seja, devem apresentar dados que comprovem a qualidade do produto, além da segurança e eficácia do seu uso.

“A possibilidade de uso dessa forma depende de diversos fatores técnicos e regulatórios, como a garantia da segurança e estabilidade do princípio ativo (nem todos os fármacos mantêm sua estabilidade química e microbiológica em uma matriz gelatinosa ou mastigável) ou a adequação à via de administração (a forma gummy é geralmente destinada à administração oral e pode ser inadequada para medicamentos que exigem liberação controlada, absorção específica ou que sejam irritantes para a mucosa oral)”, explicou a agência.

Entre os medicamentos citados pela agência como exemplos de remédios que estão sendo comercializados legalmente em forma de bala ou pastilhas estão: o anestésico e anti-inflamatório Flogoral, as pastilhas gomosas para parar de fumar Niquitin e a pastilha de flurbiprofeno Strepsils.

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